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sábado, 8 de dezembro de 2007

Porque dizer "Eu te Amo" (29/10/04)

Na infância, não aprendemos que as diferenças foram feitas para serem aceitas e as pessoas, para serem sentidas. Quando crescemos, as mãos parecem atadas e a garganta em nó. Não sabemos aceitar a nós mesmos, nem o nosso amor, se ele faz parte da minoria. Mas, as vezes, quando o encanto se quebra, pode ser tarde...
Há algum tempo, coisas boas passaram a fazer parte da minha vida. Uma delas era uma pessoa. Minha mãe até hoje diz "o que é bom dura pouco, aproveita...", e eu custei a entender...
Esse quase ser que invadiu meu mundo silenciosamente me fez sentir querida, especial entre tantos anônimos desfigurados a minha volta. Passamos três meses juntos... Talvez fosse um anjo me preparando para o momento mais difícil da minha quase vida (quase porque só será vida quando eu crescer e, sinceramente, espero que isso nunca ocorra). Um anjo que não acreditava em Deus. Existe? Acredito que sim.
Mas talvez fosse apenas um menino, um quase homem tentando me mostrar que não existe vergonha em amar, que nos momentos únicos não podemos deixar escapar o fio que distingue o sucesso do fracasso. Que devemos dizer "eu te amo" simples assim, com todas as letras assim, porque "eu te amo" não quer dizer "me beija" nem "casa comigo". É apenas amor consciente, sem sexo, sem cor, sem religião.
Bem, todos os dias esse quase sonho, quase realidade, estava ao meu lado. Me ajudava, me ouvia. Limpava meu rosto em lágrimas e me aplaudia quando sorria. Mas, com o passar dos dias, essa cumplicidade de almas gêmeas que há pouco se conheciam foi ficando sufocante, dava agonia. O que faltava? Não sabia.
Deixamos passar em branco momentos decisivos que não voltam atrás. Pessoas decisivas... É um motivo mediocremente humano, social, que trava nossas pernas e só deixa nossas bocas livres para falar mal. Nunca para um elogio...
A dor física foi aumentando junto com a saudade imensa daquele quase distante presente. E, enquanto falávamos, caminhávamos juntos, lado a lado, as palavras tomavam lugar da sopa de letras e confusões que era minha cabeça. "Sua burra! O que você sente é amor!!! "Amor? Como amar alguém tendo já um (pseudo) amor? Como sentir falta de rir o mesmo riso sem a atração dos corpos?" Ninguém descobriu. Não por falta de oportunidade, nem por falta de diálogo. Mas por faltarem, calarem, as palavrinhas certas. "Eu te amo".
Uma semana antes do fim, a oportunidade derradeira surgiu. Um ponto de ônibus, apenas nós dois, a dor insuportável, as mãos trêmulas.
"Fala agora, garota!", "Não posso, vou me ferrar.", "Não vai, ele está esperando. Depois não vai querer ouvir!", "Quando eu tiver certeza, eu falo...", "Não há quando... só agora! Você e ele."
- Anjo, preciso falar uma coisa.
- Sou todo ouvidos.
- ...
- O que foi? Aconteceu algo?
- Quero te desejar uma boa viagem. Aproveita o feriado
- Você também.
- Não sei. Estou com um aperto no peito... Não me sinto bem.
- Vem cá, me dá um abraço. Meu ônibus tá vindo.
- Depois eu te ligo, e a gente se fala melhor. Preciso muito conversar contigo.
- Eu sei... Te cuida, garota. Quero te ver melhor.
Foi nossa última conversa. Depois de dois dias descobri que iria passar por uma cirurgia de emergência e, três dias antes da internação, veio a notícia. Meu quase refúgio, quase perdição, havia partido para sempre. Eu não veria mais seu rosto de novo, não partilharia novamente seus ideais e risos. Nem ao menos diria adeus a seu calor.
Por isso, hoje, costumo dizer tudo o que sinto. Nunca o que penso. Pensar emburrece, atrasa a percepção. Perdi um amor. Talvez o mais puro e verdadeiro, o único recíproco e desinteressado, com certeza o mais terno e duradouro.
Dizer "eu te amo" liberta a alma porque o amor é o mais precioso e raro sentimento. Trancá-lo no coração só causa amargura, sofrimento. E, para mim, fica rodando em meu cinema mental a reprise incansável do adeus naquele ponto de ônibus...

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